19: Solidão e falta de relações sociais associadas a 870 mil mortes prematuras por ano

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SAÚDE MENTAL // SOLIDÃO // IMPACTO

Estudo da OCDE alerta também que a solidão está associada a um pior desempenho no trabalho e a uma maior probabilidade de desemprego ou de abandono escolar precoce.

D.R.

A solidão e a falta de relações sociais estão associadas a mais de 870 mil mortes prematuras no mundo anualmente e representam um risco acrescido para a saúde física e mental, alertou esta quinta-feira (16 de Outubro) a OCDE.

Passar pouco tempo a interagir com outras pessoas e sentir-se sozinho está associado à mortalidade prematura – até 871 mil mortes globais anualmente – e a um risco acrescido de muitas condições de saúde física e mental”, refere um estudo da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) sobre as ligações sociais em mais de 20 países.

O documento alerta também que a solidão está associada a um pior desempenho no trabalho, a uma maior probabilidade de desemprego ou de abandono escolar precoce, enquanto as interacções sociais frequentes estão relacionadas com melhores níveis de saúde e uma maior satisfação e criatividade no trabalho e no desempenho académico.

Segundo a OCDE, organização da qual Portugal faz parte, as “ligações sociais são fortes em geral” nos países abrangidos pelo estudo, que concluiu que mais de dois terços dos inquiridos interagem com amigos ou familiares diariamente e 90% têm alguém com quem contar em momentos de necessidade.

No entanto, 10% das pessoas sentem-se sem apoio, 8% dos inquiridos em 22 países europeus da OCDE afirmam não ter amigos próximos e 6% dos inquiridos em 23 países da OCDE sentiram-se sozinhos na maior parte ou em todo o tempo nas últimas quatro semanas”, salienta o documento.

Em 21 países europeus que fazem parte da organização as interacções presenciais diárias com amigos e familiares diminuíram consistentemente entre 2006, 2015 e 2022, enquanto o contacto remoto aumentou, refere.

O estudo realça ainda que os homens e os jovens “emergiram como novos grupos de risco” nos últimos anos.

Embora os homens tradicionalmente relatem taxas de solidão mais baixas e uma melhor qualidade de relacionamento do que as mulheres, entre 2018 e 2022 este grupo experimentou uma “maior deterioração” das suas relações sociais.

De acordo com o estudo, os jovens também relataram um aumento da insatisfação com os relacionamentos e um agravamento do apoio social, além de se encontrarem com os amigos pessoalmente com menos frequência.

“O desemprego e os baixos rendimentos andam frequentemente de mãos dadas com ligações sociais precárias, assim como a idade avançada e o viver sozinho”, adianta também a OCDE.

Em comparação com a população em geral, as pessoas desempregadas e as que auferem um rendimento mais baixo “têm cerca de duas vezes mais probabilidades de relatar sentir-se sozinhos”.

as pessoas que vivem sozinhas têm 1,5 vezes mais probabilidades de se sentirem insatisfeitas com as relações pessoais, enquanto os idosos correm maior risco de isolamento social: 11% referem nunca encontrar amigos pessoalmente num ano normal, mais do dobro da taxa da população em geral, adianta o estudo.

A OCDE salienta que a quantidade e a qualidade das ligações sociais são importantes para o bem-estar pessoal, mas também para a redução de custos sociais e económicos evitáveis.

Embora a atenção das políticas à solidão e ao isolamento já se verificasse antes da covid-19, essa consciencialização acelerou após a pandemia, refere a organização, que dá como exemplo a Alemanha, a Dinamarca, a Finlândia, os Países Baixos, a Suécia e a Espanha, que introduziram estratégias nacionais para combater a solidão.

Diário de Notícias
DN/Lusa
16.10.2025

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18: Portugueses mantêm hábitos alimentares que mais contribuem para a mortalidade e perda de anos de vida saudável

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PORTUGAL // SAÚDE // NUTRIÇÃO // HÁBITOS

Relatório da Direcção-Geral da Saúde divulgado esta quinta-feira, dia 16, para assinalar o Dia Mundial da Alimentação revela que portugueses continuam a abusar no consumo de carne vermelha e de carne processada e a consumir poucos cereais integrais. Outro destaque do documento vai para o impacto positivo do imposto sobre as bebidas açucaradas.

Portugueses ainda comem poucos cereais integrais e legumes

Em 2021, os hábitos alimentares inadequados foram o quinto factor de risco que mais contribuiu para a perda de anos de vida saudável dos portugueses e para a mortalidade. A conclusão está expressa no relatório de 2024 do Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável (PNPAS), um dos programas de Saúde prioritários da Direcção-Geral da Saúde (DGS), que foi divulgado nesta quinta-feira, 16 de Outubro, para assinalar o Dia Mundial da Alimentação.

O documento, que reúne toda a informação epidemiológica a nível nacional na área da alimentação e nutrição, revela que os portugueses continuam a ter um consumo elevado de de carne vermelha e de carne processada e baixo consumo de cereais integrais. Três dos principais factores que “contribuem para a perda de anos de vida saudável e para a mortalidade”.

No entanto, nem tudo é negativo. O relatório destaca também que Portugal conseguiu melhorar a sua oferta alimentar e aumentar a sua resposta na área da nutrição nos Cuidados de Saúde Primários, situando-se agora entre os países europeus com menor teor médio de sal e açúcar nos alimentos, apresentando valores mais baixos de sal em produtos de padaria, refeições pré-preparadas e queijos, e de açúcar em refrigerantes e bolos e bolachas doces.

Nas conclusões é especificado que, no ano passado, foi possível verificar-se “uma diminuição da prevalência de insegurança alimentar moderada ou severa em Portugal (-0,7 p.p.), igualando os 4,1%. A análise realizada pela DGS permitiu perceber que “a percentagem média de doentes submetidos à identificação do risco nutricional nas unidades hospitalares do Serviço Nacional de Saúde (SNS) monitorizadas pelo BI do risco nutricional foi de 36,7%”, e que durante o ano de 2024 “foram realizadas 136 921 consultas de nutrição nos Cuidados de Saúde Primários (CSP)”.

De acordo com a informação disponibilizada, conclui-se que “a evolução temporal nesta área tem sido positiva desde 2022, traduzindo-se num aumento de praticamente 30% no número de consultas de nutrição relativamente a 2022”, sendo que, “em 2024, o tempo decorrido entre a referenciação de um doente e a efectivação da consulta de nutrição foi de 94 dias totais”.

Outro destaque positivo vai para o impacto do imposto sobre as bebidas açucaradas, que incentivou “à reformulação do teor de açúcar destas bebidas, tendo-se verificado uma diminuição de 39% da proporção de bebidas com 8g de açúcar por 100mL, entre 2017 e 2024”. Ou seja, refere o documento, “entre 2017 e 2024, verificou-se uma redução de 39% nas bebidas com maior teor de açúcar (≥8g/100mL). Este efeito, mantido ao longo do tempo, demonstra o papel decisivo das políticas fiscais na promoção de ambientes alimentares mais saudáveis”.

Mas os resultados agora divulgados sugerem que “as medidas regulatórias são mais efectivas do que os acordos voluntários, já que a redução de açúcar foi significativamente superior nos refrigerantes sujeitos à taxação (−25,7%) do que nas categorias apenas abrangidas por compromissos voluntários (−14,8%)”.

No futuro, em termos de metas a alcançar até 2027, a DGS assume ser necessário “melhorar o conhecimento sobre o consumo alimentar e estado nutricional da população portuguesa; promover a melhoria do acesso e da qualidade a cuidados nutricionais, em todos os níveis de cuidados de saúde; melhorar os ambientes alimentares, através de medidas que reduzam a exposição e os estímulos ao consumo de alimentos não saudáveis e, em contrapartida, promovam a exposição a alimentos saudáveis”.

Diário de Notícias
Ana Mafalda Inácio
16.10.2025

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17: Médicos juntam-se a greve geral da Função Pública no dia 24

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PORTUGAL // SNS // MÉDICOS // GREVE

No dia em que a ministra da Saúde está a receber os sindicatos dos médicos e dos enfermeiros para apresentar três decretos de lei, Federação Nacional dos Médicos anuncia que se junta à paralisação decretada pela Frente Comum.

FNAM junta-se à greve geral.
Gerardo Santos

A presidente da Federação Nacional dos Médicos, Joana Bordalo e Sá, confirmou ao DN que a estrutura vai juntar-se à greve geral decretada pela Frente Comum no dia 24 de Outubro. Joana Bordalo e Sá explicou ao DN que a adesão a este protesto serve para “salvaguardar” todos os médicos que queiram manifestar a sua “insatisfação” com o que se está a passar no Serviço Nacional de Saúde (SNS), acrescentando que a FNAM avança para esta decisão perante o que foi hoje demonstrado pelo lado da tutela: “Falta de diálogo e desrespeito pelos profissionais e pelos utentes do SNS. Por isso mesmo, vamos juntar-nos a esta greve em too o território nacional e ilhas no dia 24 de Outubro”.

Uma greve que considera ser, mais uma vez, “um grito de alerta” para o que “Ama Paula Martins e o governo de Luís Montenegro estão a fazer ao SNS”, sublinhando ainda “fazemos isto em nome de todas as grávidas que tiveram os seus bebés nas ambulâncias ou no chão da rua e por todos os cidadãos que merecem um SNS público digno. Vamos continuar a lutar por isto”.

O anúncio surge nesta quinta-feira, dia 16, quando a ministra da Saúde tinha agendado para a parte da manhã várias reuniões com os sindicatos representativos de profissionais do SNS, nomeadamente dos médicos e dos enfermeiros, para dar a conhecer três decretos de lei que envolvem mexidas em matérias laborais.

Tal como o DN já tinha noticiado esta semana, a ministra levou para cima da mesa os projectos de Decreto-Lei referentes às novas regras de contratação de profissionais tarefeiros, com o objectivo de reduzir o uso deste tipo de profissionais, à criação de urgências regionais no país, bem como o da criação dos chamados Centros de Elevado Desempenho, uma espécie de Centros de Responsabilidade Integrada nos hospitais, mas só para área da Ginecologia-Obstetrícia. Segundo apurou o DN, legislação que envolve mexidas em matérias laborais que exigem, pelo menos, que os sindicatos sejam informados sobre o seu conteúdo.

No final da reunião e do anúncio de mais um protesto, a presidente da FNAM, Joana Bordalo e Sá, dizia ao DN que esta “foi o total desrespeito pelos médicos”, confirmando que “foram apresentados três diplomas que entendemos que consideramos serem profundamente prejudicial para a população e para o futuro do SNS, sobretudo no que toca à concentração de recursos em urgências regionais”.

Segundo a dirigente sindical, “o que estão a prever é concentrar serviços de urgência a nível regional na área da Ginecologia-Obstetrícia, o que, na prática, vai continuar a deixar as grávidas e os seus bebés sem cuidados de proximidade”. Portanto, “na margem sul, onde temos um milhão de habitantes, e seguramente noutras zonas do país, as grávidas e as suas famílias vão continuar a ter de fazer dezenas e dezenas de quilómetros para terem os seus filhos”.

Joana Bordalo e Sá, que referiu ao DN que as matérias foram referidas sem lhes ter sido dada qualquer documentação para analisar, volta a alertar para o facto de “uma urgência regional não ser a mesma coisa que uma urgência metropolitana. No Porto, os hospitais estão a poucos quilómetros dos outros e este modelo nem sequer existe na área da obstetrícia, porque é uma área extremamente sensível e que tem que estar próxima da população”.

Quanto ao projecto que prevê a alteração das regras na contratação de prestadores de serviços (tarefeiros), a presidente da FNAM destaca: “Desconhecemos o documento, a única informação que dada é muito pouco clara, mas percebeu-se que, acima de tudo, continua uma porta aberta à prestação de serviço indiferenciada, de médicos que não têm especialidade. Mas, acima de tudo, o que se percebeu é que neste projecto não há qualquer medida que tente reduzir a necessidade da prestação de serviços, embora o objectivo devesse ser esse”.

Sobre os Centros de Elevado Desempenho na área da Ginecologia-Obstetrícia, Joana Bordalo e Sá diz que a informação dispensada “ainda é mais confusa e pedimos a documentação para analisar. Basicamente são centros na lógica da produtividade industrial que já sabemos não serem atractivos para médicos e que não vão responder às necessidades da população”.

A presidente da FNAM afirma ao DN que o agendamento desta reunião “não foi para negociar mas para consumar o que já está decidido pelo Governo”.

O DN soube junto de fonte da tutela que a ministra quer levar tais diplomas “o mais rápido possível a Conselho de Ministros, provavelmente até ao final do mês”, embora “devam existir mais reuniões com sindicatos”. A FNAM confirmou ter ficado uma marcada uma nova reunião, não presencial, mas digital, para a próxima semana.

O DN tentou ainda obter uma reacção do Sindicato Independente dos Médicos à reunião com a ministra Ana Paula Martins, mas ainda não foi possível.

Em actualização

Diário de Notícias
Ana Mafalda Inácio
16.10.2025

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16: Quinze anos morto em casa

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SOCIEDADE / EGOÍSMO / ESPANHA

Quinze anos morto, só, atrás de uma porta jamais aberta. Em Madrid, vizinhos julgaram que estava num lar; estava esquecido. Portugal reconhece este retrato: rotinas que lavam as mãos, sistemas que fecham os olhos, instituições tardias e uma sociedade egoísta que se protege do outro em vez de o proteger. Este é tema do Além dos títulos desta semana,

Um idoso encontrado morto em casa, década e meia depois. Espanha hoje; Portugal ontem e, se nada mudarmos, amanhã.

A pergunta é simples e terrível: como é possível? Num país com rede de saúde, serviços sociais e polícias, num bairro com condomínios, centros de saúde, juntas de freguesia e vizinhos, como é que quinze anos passam sem que ninguém estranhe o correio acumulado, a luz que não se acende, o silêncio que não envelhece?

O que se revela, por baixo da rotina bem-comportada, é uma sociedade egoísta: habituada a terceirizar o cuidado, a delegar a atenção no “sistema”, a afastar o incómodo e a proteger o conforto próprio, mesmo quando o preço é a invisibilidade do outro.

Em Portugal, já vimos isto.

Vimos idosos deixados dias e semanas em corredores de hospitais, sem família que os venha buscar e sem plano social que os acompanhe.

Vimos altas “técnicas” que são, na prática, expulsões administrativas para o nada.

Vimos violência disfarçada de impaciência e abandono escondido sob a palavra “autonomia” quando, na verdade, é desamparo. Nada nos garante que não volte a acontecer — porque nada de estrutural foi feito e porque a indiferença egoísta continua a ser tolerada.

O direito à dignidade, à integridade física e moral, à protecção na doença e na velhice não cabe em slogans; exige protocolos obrigatórios de sinalização, integração efetiva entre saúde e acção social, e responsabilidade.

Responsabilidade com nome: Estado, autarquias, instituições particulares de solidariedade social, administrações hospitalares. E também a responsabilidade incómoda: família e vizinhança.

O que falha é sempre o mesmo.

Falha a identificação e o acompanhamento, porque não existe um registo actualizado de pessoas sós em risco, com cruzamento de dados de centros de saúde, segurança social e autarquias; sem mapa, perde-se gente.

Falham protocolos vinculativos: quando um idoso fica internado sem retaguarda, a alta não pode ser um bilhete de saída para o vazio; tem de accionar automaticamente uma resposta social, monitorização domiciliária e apoio jurídico sempre que existam indícios de abandono ou violência.

Falha a vizinhança responsável: não basta achar que o vizinho foi para um lar; é preciso verificar, reportar, bater à porta.

A indiferença também mata.

Isto não é apenas uma tragédia; é um fracasso jurídico e ético. Um sistema que tolera a invisibilidade fabrica autópsias morais. E nós, que escrevemos, legislamos, julgamos e governamos, não podemos aceitar que a solidão seja um destino administrativo.

Não se legisla o amor, mas legisla-se a responsabilidade.

Não se impõe a ternura, mas obriga-se o cuidado. E quando o Estado diz “não tenho meios”, responde-se: não há custo mais caro do que a morte silenciosa.

Um homem ficou quinze anos morto numa casa em Espanha. O tempo passou, o mundo mudou e ele não.

A única pergunta que importa é se se tolera que isto aconteça aqui.

Não pode ser tolerado.

E não haverá descanso enquanto a porta que separa a sociedade da dignidade não for substituída por uma rede de cuidado e responsabilidade que a ligue ao dever essencial: ninguém fica para trás.

Expresso
João Massano
16.10.2025

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